Por quê não? Foi o que pensei...Tá na hora de começar, por que não agora?
Tá confuso, né? Então vamos ao histórico desse meu aparecimento ainda tímido na net.
Melhor retroceder: algum tempo no passado.
Eu não sei há quanto tempo atrás, mas numa data incerta, um desses carrascos incorporado na figura de um médico selou meu destino esportivo: "Você tem um problema no quadril, provavelmente devido a uma queda de moto ou coisa parecida. Não poderá fazer atividades como corrida, caminhada e montanhismo." Diante desse veredito, restava para mim, um montanhista de coração, escolher outro esporte. "Posso andar de bike?", perguntei timidamente, como se pedisse desculpa. A resposta dele era que eu poderia, mas que não deveria abusar. Se eu não podia mais caminhar a pé através das montanhas, restava, desrespeitando só um pouco as ordens médicas, pedalar apreciando imagens montanhosas que me deixam louco. Seis meses depois, tinha comprado um veículo de duas rodas sem motor mais ou menos irado. Era um feliz proprietário de uma bike, faltava a montanha. Corta.
Muito tempo depois: em algum momento de 2008...
Pois é, as montanhas não vieram e a bike ficou lá, na minha garagem. Pra ser um montainbiker, precisaria carregar a bicicleta até um local montanhoso, encontrar uma turma de apoio e dispor de finais de semana, algo não muito fácil pra um cara que é professor e costuma a ver, durante os dias que dizem ser de descanso, não exatamente montanhas rochosas, mas montanhas de provas e trabalhos a serem corrigidos.
Mas vamos ao que interessa. Em 2008, a bike na garagem me incomodava. Resolvi ser um biker do asfalto. Num belo domingo, saí de casa sozinho para trilhar as ruas dessa megalópole. Não vi montanhas, mas vi outras coisas. No domingo a cidade é outra. Passei pelo Brás, onde durante a semana se concentram pessoas para comprar e vender. Suas ruas, no domingo, são tomadas por algo inesperado: os moradores - nordestinos, paulistanos, africanos. Ficavam nas calçadas . Tomavam cerveja, ouviam música e faziam o espaço público ser realmente um espaço para a manifestação do público. Mais umas ruas à frente, chegei ao centro velho da cidade. Encontrei um grupo de dança afro em plena praça do Patriarca! Os compenentes usavam o espaço para se prepararem para o Carnaval. Em cada rua, meu olhar atento captava uma cena diferente. Que cidade é essa?
Imediatamente tive uma idéia: uma vez por mês sair de bike em grupo e produzir um blog com o material recolhido. Precisaria de pessoas que pudessem fotografar, comentar e fazer crônicas desses passeios periódicos por São Paulo, em cima das magrelas com rodas. Seriam necessários 4 componentes. Como gosto de escrever e tive a idéia, eu seria o cronista da turma. Como sou tímido e não conseguiria nenhuma informação dos habitantes da cidade, precisaria de um cara de pau: um jornalista. Pensei em contatar algum aluno do ensino médio que quisesse fazer jornalismo para participar da empreitada. O terceiro componente deveria ser alguém que tirasse fotos e, completando o quadro, necessitava de um gajo com conhecimentos de geografia ou sociologia para comentar o que a gente iria ver por essa cidade que é um mundo. Gostaria de montar uma equipe variada, se possível com componetes de sexos diferentes e com idades diferentes. De fato, entrei em contato com algumas pessoas e estava começando a me animar....
Segundo semestre de 2008.
Melhor não comentar. Entre mortos e feridos, posso dizer que sobrevivi. Ou seja, trabalhei, respirei (o que é muito importante segundo meu instrutor de yôga) e resolvi problemas. Nesse ambiente, o projeto do blog foi pro espaço....
2009...Ueba. Será que é agora?
Hoje: 25 de janeiro de 2009. A cidade faz aniversário. Saí de bike como faço todos os domingos. Não consegui montar a equipe, não fiz o blog. Enquanto pedavala, fui martelando o antigo projeto. "Foda-se", pensei. "Vou fazer o blog do mesmo jeito. Vai ficar sem foto, sem jornalismo, sem sociólogo. Uma hora eles aparecem. O negócio é começar". Ah então tá...Estou aqui com a cara de pau escrevendo isso e duvidando de que alguém vai ler. (Tive uma idéia sinistra: obrigar meus alunos a lerem isso, afinal essa profissão deve servir para alguma coisa (rs)).
Primeira crônica: uma decepção
Antes que alguém já comece a criticar, eu mesmo já faço isso. Resolvi fazer o blog e pensei que tinha que ser hoje, dia do aniversário da cidade. Mas precisava fazer o histórico da idéia desse blog, então nessa primeira postagem, vou falar quase nada do passeio que fiz...(Palhaçada, né?)
Primeira postagem pra valer...e espero que não seja a última
Nesse dia de aniversário, fiz um passeio para ver os assuntos que esse blog ainda vai explorar, hoje vou postar, na forma de um caleidoscópio de temas, o que vi ou senti: moradores de cortiço, sentados na calçada, conversavam com vizinhos; bolivianos na praça da Concórdia; prédios abandonados e decandentes; o cheiro acre da rua 25 de março; perto da XV de novembro, o prédio restaurado do Banco do Brasil; o palco de show no Anhangabaú; o louco que tirou a roupa no meio da rua porque, segundo ele, uma cobra o atacava; a rua gay ou os gays da rua Vieria de Carvalho; os passantes do minhocão, construção que vira uma passarela no domingo; a padoca chic da Pompéia onde se pode tomar um bom café...O resto, por hoje, deixo que sua imaginação complete.
Mas uma coisa tenho que contar sem enumerar. Quando me preparava para voltar, ocorreu algo: a chuva. Parece que a cidade queria relembrar seu apelido de terra da garoa. Chovia e com o frio que eu sentia ao descer as ladeiras, vinha também a lembrança dos banhos de chuva na infância. Lavava a alma e o corpo, não sem uma pequena sensação de frio, ao mesmo tempo que a cidade lavava suas ruas. Quando cheguei ao Brás, o asfalto das rua emergia e submergia intermitantemente nas gigantescas poças de águas . Perto de casa, virei à esquerda e topei com uma rua que parecia uma corredeira. Tive a sensação de pedalar num rio caudaloso. A roda da bike fazia ondas e cortava a correnteza. Meu coração bateu um pouco mais forte, misto de adrenalina e alegria: reencontrei minhas imagens de montanhismo....
Feliz aniversário, São Paulo! Bom começo pra gente e até o mês que vem.
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