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Foto do escritorFernando Andrade

Andes

Durma, meu menino,

apesar do augúrios

que anunciam espíritos ancestrais;

Dos penedos

que se empoleiram assanhados

sobre o abismo da vida;

E das pedras

que se soltam em espasmos sísmicos.

Esqueça o torvelinho

ascendente do vale

velando vis profecias.

Esqueça as árvores

reclamantes dos céus

com ressequidos ramos,

lançando ao alto mãos centopéicas,

- sarças ardentes ao avesso.

E não se incomode

com as gotas geladas

que escorrem da neve,

Nem com o ar de cristal

que raspa a garganta

Não tema

a névoa movediça

que submerge montanhas e vales

muito menos o gelo partido

que engole os pés

Simplesmente durma,

aquecido, talvez,

pelo reflexo da chama fria

que tinge os cumes –

Laranja anciã

de um sol deposto

Acima de tudo, durma

embalado pelo silêncio

oblongo que se encrava nas montanhas.

Mas se o sono acolhedor não vier,

deixe ao menos,

que a última prancha infantil

lhe escorregue no gelo que restou:

O fio da navalha de medos rubros.

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1 comentário


Ma
07 de abr. de 2020

Amei seus poemas! Imagens fortes e ásperas.

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