Olá, galera....
Faz tempo, né? Ainda contínuo dando minhas pedaladas e, em cima de duas rodas, fui longe, só que fui com minha magrela motorizada. Bem esse papo fica pra outra vez.
Não vou prometer retomar o projeto de escrever todo mês porque isso fica parecendo promessa de regime, típica de segunda-feira e hoje é domingo, não cai bem...Então fica combinado, escrevo de vez em quando...rs. Ah, vou tentar ser mais curto e grosso...
Bem, hoje tinha uma tarefa: entregar o DVD da série “Supernatural” na locadora da Av. Paulista. Para quem não sabe, no seriado, dois irmãos são caçadores de espíritos, fantasmas, demônios e todo tipo de espécime do mal. Pois é galera, acho que foi nessa vibe que baixei de bike nos arredores do Parque D. Pedro. É fato que já passei por lá mais de mil vezes, mas hoje fiquei com vontade de entrar no Palácio das Indústrias (um prédio de gosto duvidoso, construído pela elite paulistana na década de 20, que exala, em cada tijolo, a ostentação da grana). Já estava tarde, então dei uma de João sem Braço, fiz de conta que desejava informação, engatei um blá, blá, blá com o cara da guarita, mas fiquei no mesmo lugar: não tinha jeito de entrar depois das 16:00. Gastei meu latim à toa.
Resolvi então passar por baixo do Viaduto que sai de frente do Palácio e deságua no Parque D. Pedro. Primeiro, topei com uma barraca de acampamento para duas pessoas. Um mendigo se preparava para dormir ali (deve ser produto chinês, esse povo está ficando sofisticado! Efeito da globalização?) Mais a frente, mendigos formavam um círculo. Sujos e mal lavados lembravam personagens da série televisiva, quando na verdade eram seres reais da cidade. O caldeirão e o fogo perto deles não davam pistas de rituais demoníacos, antes eram simples matérias ligadas ao pão nosso de cada dia. Eram homens. Só homens. Por um momento, fiquei pensando na grandeza e miséria desse meu gênero masculino. Nós que saímos para caça, para a praça, somos os mesmos que nos perdemos nos buracos daquilo que criamos. Era o risco. Opa, por falar em buraco ou em risco, um deles me tirou do devaneio e me devolveu ao trajeto que naquele momento incluía subir a ladeira da General Carneiro.
Alcancei fácil a Rua XV de Novembro e resolvi dar uma parada no Café do Centro Cultural Banco do Brasil. O referido recinto com mesas na calçada, meio à moda francesa, fica separado da rua por barras de ferro trabalhadas, lugar perfeito para colocar a bike...pelo menos segundo o meu pobre entendimento. Foi só encostar ali que o pinguim de paletó veio logo gritando “Aí não pode, senhor”. Os caras privatizam metade do calçadão e acham que uma bicicleta encostada nas grades particulares do estabelecimento é um absurdo...Alvejei uma placa de sinalização onde poderia amarrar minha magrela, mas desisti. Irritação não combinava com um café tranquilo em um domingo de bike. Segui até a Praça do Patriarca.
Ironia. Naquela praça ampla em que se podem fazer curvas iradas de bike, eu só poderia passar por uma faixa estreita delimitada com fitas listradas de amarelo e preto. A praça estava tomada por mesinhas, luzes, câmeras e geradores de energia. Estavam fazendo uma filmagem. Alguém, ali, privatizara o lugar sem ao menos receber um pito de qualquer pinguim autoritário ou guardinha municipal. Não poderia passar no meio da praça e pronto. Entre dois “nãos” um tanto quanto surreais, olhei para os agraciados que naquele momento tinham permissão de adentrar o local que deveria ser do povo. Uma multidão de domingo (que não é muita gente) observava figurantes andarem naquele espaço: esperavam a entrada de algum ator global. Entre os figurantes, havia um mendigo. Não sei se era de “verdade”. De repente, me passou pela cabeça que eles poderiam necessitar de alguém andando de bike na cena. Acelerei as pedaladas. Não queria ser fantasma de mim mesmo.
Ah...só para constar, entreguei o DVD na boa sem nenhuma intervenção do além.
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